terça-feira, 29 de abril de 2008

O rally visto de cima

foto: Pedro Campos

Comida a bordo



Sábio aquele que disse que a melhor maneira de se conhecer um pouco mais da cultura e dos costumes de um lugar é provar os quitutes da região. Nesta vida de marinheiro improvisado, a coisa não é diferente.

Sempre regadas a muita conversa fora e a taças e mais taças de bons vinhos chilenos, espanhóis ou franceses, vamos degustando das melhores guloseimas que esses chefs aprenderam pelos portos por onde passaram neste mundo afora.

São iguarias doces e salgadas de tirar o fôlego deste estômago nordestino que vos fala. Tudo feito com muito esmero pelas jovens senhoras recém aposentadas e que, na presença de um visitante made in Brasil feito moi, se empenham ainda mais nas pequeninas cozinhas dos seus veleiros, para tornar cada petisco um manjar dos deuses.

Merci, madames, pelos quilinhos adquiridos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Entre o nada e lugar nenhum

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fotos: Pedro Campos

Doutores da natureza

Com o facão na mão, ‘seo’ Abílio avança contra a mata fechada e vai abrindo trilha por dentro do santuário verde absoluto. No rosto marcado pelo sol, traz as cicatrizes de uma vida travada na labuta do roçado. O olho vazado denuncia um passado de brigas de foice na defesa do pedacinho de terra que herdou do pai agricultor.

Além da valentia e da pequena roça, Abílio Vasconcelos de Souza, 47, herdou também um conhecimento raro, digno apenas dos “doutores do mato”, como costuma dizer. Um privilégio para poucos e que vem se perdendo com o passar dos anos. “Tenho dois filhos, mas nunca nenhum deles se interessou em aprender da nossa medicina. Tomara que os filhos do vizinho queiram”, lamenta.

Ele conta que aprendeu ainda criança os segredos da floresta. “Tudo o que nasce nessas terras tem serventia pra saúde. Andiroba, cupuaçu, cupaíba, abricó... É só saber extrair a coisa certa de cada plantinha, que é capaz do sujeito viver cem anos e nunca precisar ir num médico”, diz.

Exageros à parte, a verdade é que os remédios naturais reinam em absoluto nas comunidades ribeirinhas do Pará. Na grande maioria das cidades em que o Rally Transamazônico Iles du Soleil passou era comum encontrar óleos e garrafadas de fabricação caseira, sendo vendidos nas feiras populares da região.

“Pra tudo nessa vida a natureza tem um remédio. Pra próstata, pros rins, fígado, diabetes, hipertensão, anemia, artrite, tosse, moleza, derrame... tudo! Mas se for a hora do sujeito não tem sabedoria que dê jeito. Pode ser doutor estudado ou gente do mato como eu, a única coisa que não tem cura nessa vida é a morte”, profetiza a curandeira do município de Monte Alegre, Maria Maranhense, 62.

Por outro lado, a busca da cura nestes produtos reflete também a ausência de políticas públicas no norte do país e denuncia a falta de assistência médica de qualidade. “Médico por aqui só há 5h de barco a motor e, ainda assim, a gente nunca sabe se vai ser atendido. O jeito é se apegar nas ervas do quintal e fazer como nossas mães e avós faziam”, diz a aposentada Maria de Jesus, 76.

Os Chapolins do Pará

Quase 2 mil km de rio, 56 dias, 24h no ar. Eis a missão.
Traje vermelho, lycra e neoprene. Por aqui, quando o bicho pega e ninguém sabe mais o que fazer, o chamado pelo rádio é imediato e a única coisa que se ouve nos momentos de tensão de um rally transamazônico com este é: BOMBEIROS!

Pode ser debaixo de chuva, no rio revolto, com correntes fortes....nada, absolutamente nada, é capaz de conter a “fúria” destes quatro homens. Rápidos e eficientes, para eles não tem tempo ruim. Assim, o subtenente Jedalias, o sargento Prazeres e os cabos Peixoto e Vinícius conquistaram a simpatia dos mais de cem integrantes do Rallye Iles du Soleil.

Juntos, perderam as contas de quantas ocorrência já foram registradas e de quantas horas de mergulho marcadas nos cilindros de oxigênio. Agora, no caminho para a segunda etapa do percurso pela Amazônia, eles se preparam para enfrentar o maior de todos os inimigos: os terríveis Mururés de Afuá. Seres vivos da espécie vegetal, armados de espinhos venenosos e que tem o incrível poder de danificar as hélices das embarcações.

E agora? Quem levará a melhor, os Chapolins do Pará ou os temidos Mururés de Afuá?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Vou de táxi

Vou de táxi, você sabe... Tem de 100, de 200, de 500 e de outras tantas cilindradas. Frenéticas, coloridas, conturbadas, rápidas e desengonçadas. “Eita raça...”, grita uma senhora depois do susto de quase ser atropelada.

Pelas cidades que o Rally Transamazônico já passou, eles são uma unanimidade. Não há quem nunca tenha dado um rolê[sic] de Moto Táxi. Nem que tenha sido rapidinho, até a casa da costela desejada ou na volta do mercadinho do João.

Em Monte Alegre [quinta parada oficial do rally] por exemplo, a quantidade de moto taxistas é impressionante. São tantos que nem mesmo a cooperativa criada pelos próprios sabe ao certo quantos Moto Táxis existem no município. “Égua... é moto demais”, ratifica o motoqueiro Rodrigo Mendonça, do alto do inconfundível regionalismo paraense.

"Sinal de tempos difíceis. Muito filho, muita conta, pouco emprego. Aí, já viu. Liga a moto e vamo [sic] para rua”, explica Carlos Santana, pai de seis meninos.

E assim a coisa vai... e vem. Por dois contos, o sujeito é entregue no recinto desejado e ainda poupa as franzinas canelas fatigadas.



terça-feira, 8 de abril de 2008

Novo Horizonte

Já se passaram quatro anos desde que o pequeno Ruan Moura, 12, viu um grupo de velejadores estrangeiros ancorar em frente a casa onde mora com os pais e os dois irmãos. Intrigado, o garoto quis conhecer de perto quem era aquela gente tão diferente, de fala estranha e jeito engraçado. Hoje, nem Ruan ou qualquer outro morador da comunidade de Novo Horizonte, Pará, se espanta mais quando os veleiros do Rallye Iles du Soleil aporta por ali.

Emílio Russel, coordenador do evento, conta que o humilde vilarejo entrou no circuito por acaso, “forças do além”, costuma dizer. “Tivemos problemas com um dos barcos logo aqui em frente e, por uma questão de segurança, achamos melhor passar a noite na comunidade até resolvermos tudo”, lembra.

E assim foi feito. Agora, graças a interação com os moradores do lugar, Novo Horizonte é uma das escalas mais aguardadas pelos turistas europeus. “Acho que este lugar é o que melhor define a cara do Brasil. A hospitalidade das pessoas é incrível e a sinceridade estampada no olhar de cada um é fascinante”, diz o francês Luc.

Se na opinião do velejador a vila é a que melhor retrata o povo brasileiro, Novo Horizonte reflete também a total carência de políticas públicas nos rincões do país. Assim como na grande maioria das escalas do Rally Transamazônico falta saneamento básico, saúde e educação de qualidade para a população. O número de crianças assusta e a quantidade de adolescentes grávidas denuncia a falta de compromisso das autoridades responsáveis.

No vilarejo construído a beira do trapiche, o desemprego reina em absoluto. Dos 225 moradores, mais da metade sobrevive da pesca, das pequenas plantações de mandioca e açaí no fundo do quintal, ou da Bolsa Família – o programa de auxilio do Governo Federal para famílias de baixa renda no valor de R$ 95.

“Temos seis filhos pra dar de comer. Tô [sic] há mais de cinco anos sem emprego fixo, só fazendo bico. Se não fosse essa história da Bolsa Família, não sei como ia fazer”, conta Manoel da Silva, 50.

Pastoral da Criança

Em Novo Horizonte, há também aqueles personagens que, muitas vezes por iniciativa própria, transformam a realidade do lugar onde moram e protagonizam histórias de sucesso. É o caso da Irmã Manoelina Ferreira que, junto a Pastoral da Criança, vai conseguindo reduzir as taxas de mortalidade infantil na região.

Em 2003, quando iniciou o trabalho pelas comunidades ribeirinhas do município de Almeirim, se assustou com a quantidade de jovens grávidas e crianças subnutridas. “Era o retrato da total ignorância e do completo descaso social. Nesses lugares, 90% das crianças morrem por que as mães não são orientadas a cuidar dos filhos da maneira correta. Não se fala da importância da amamentação, do pré-natal ou qualquer coisa do tipo”, revela a irmã Manoelina.

Ela lembra que para combater este mal foi preciso contar com o apoio direto de algumas pessoas. Para isso, foi criada a figura do coordenador, gente de dentro das comunidades e que por estarem inseridas no mesmo contexto social que os outros conseguem orientar e acompanhar melhor o andamento das coisas.

Um bom exemplo disso é a técnica de enfermagem Eliana Moura Batista. Moradora da comunidade de Novo Horizonte há quatro anos, já consegue perceber no dia a dia o resultado das palestras que ministra uma vez por mês na escola comunitária. “Vim morar aqui para trabalhar no posto de saúde. Como o posto nunca saiu do papel e atendimento médico só há 3h de viagem, virei a enfermeira oficial do lugar. Quando cheguei, cansei de fazer parto de menina de 12 e 13 anos. Hoje, graças a Deus e às palestras isso não acontece mais. Conseguimos pílulas anticoncepcionais da Prefeitura de Almeirim e agora temos uma média de sete mulheres grávidas por ano. Metade do que encontrei há quatro anos”, diz.

Além dos alertas sobre a gravidez precoce, a Pastoral da Criança tem um novo desafio pela frente. “Estamos introduzindo a multi-mistura na alimentação das gestantes e das crianças. Assim, vamos erradicar qualquer sinal desnutrição ou anemia e quem sabe em breve acabar de uma vez com mortalidade infantil na nossa região”, diz a esperançosa Irmã Manoelina.
texto e fotos: Pedro Campos

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Europeus na Amazônia

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Fotos: Pedro Campos

Força

foto: Pedro Campos

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Almeirim

O Rallye Transamazone Iles du Soleil chega a Almeirim após um mês de viagem nas águas do rio Amazonas. Em uma noite de céu estrelado, os velejadores europeus foram recepcionados pela população local com uma apresentação do grupo folclórico mais antigo da região - Os Herdeiros de meu pai.

No figurino, saias rodadas e camisas coloridas. O grupo existe há quase um século e virou herança de família. “Tudo começou com nossos bisavós trazidos da África para trabalhar no Brasil como escravos. A música era a única manifestação de alegria que eles tinham e, por uma questão de respeito, honramos essa tradição e passamos este ritmo de geração para geração”, explica Orcina Rocha, uma das integrantes do grupo.

Ao som de chocalhos e tambores de couro, o grupo cativou os velejadores-turistas. “Depois desses quase seis meses viajando pelo Brasil, acho que essa foi a apresentação mais bonita que já vi”, disse o emocionado aventureiro francês, Jean Pierre.

fotos: Pedro Campos

terça-feira, 1 de abril de 2008

População ribeirinha

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Fotos: Pedro Campos