terça-feira, 8 de abril de 2008

Novo Horizonte

Já se passaram quatro anos desde que o pequeno Ruan Moura, 12, viu um grupo de velejadores estrangeiros ancorar em frente a casa onde mora com os pais e os dois irmãos. Intrigado, o garoto quis conhecer de perto quem era aquela gente tão diferente, de fala estranha e jeito engraçado. Hoje, nem Ruan ou qualquer outro morador da comunidade de Novo Horizonte, Pará, se espanta mais quando os veleiros do Rallye Iles du Soleil aporta por ali.

Emílio Russel, coordenador do evento, conta que o humilde vilarejo entrou no circuito por acaso, “forças do além”, costuma dizer. “Tivemos problemas com um dos barcos logo aqui em frente e, por uma questão de segurança, achamos melhor passar a noite na comunidade até resolvermos tudo”, lembra.

E assim foi feito. Agora, graças a interação com os moradores do lugar, Novo Horizonte é uma das escalas mais aguardadas pelos turistas europeus. “Acho que este lugar é o que melhor define a cara do Brasil. A hospitalidade das pessoas é incrível e a sinceridade estampada no olhar de cada um é fascinante”, diz o francês Luc.

Se na opinião do velejador a vila é a que melhor retrata o povo brasileiro, Novo Horizonte reflete também a total carência de políticas públicas nos rincões do país. Assim como na grande maioria das escalas do Rally Transamazônico falta saneamento básico, saúde e educação de qualidade para a população. O número de crianças assusta e a quantidade de adolescentes grávidas denuncia a falta de compromisso das autoridades responsáveis.

No vilarejo construído a beira do trapiche, o desemprego reina em absoluto. Dos 225 moradores, mais da metade sobrevive da pesca, das pequenas plantações de mandioca e açaí no fundo do quintal, ou da Bolsa Família – o programa de auxilio do Governo Federal para famílias de baixa renda no valor de R$ 95.

“Temos seis filhos pra dar de comer. Tô [sic] há mais de cinco anos sem emprego fixo, só fazendo bico. Se não fosse essa história da Bolsa Família, não sei como ia fazer”, conta Manoel da Silva, 50.

Pastoral da Criança

Em Novo Horizonte, há também aqueles personagens que, muitas vezes por iniciativa própria, transformam a realidade do lugar onde moram e protagonizam histórias de sucesso. É o caso da Irmã Manoelina Ferreira que, junto a Pastoral da Criança, vai conseguindo reduzir as taxas de mortalidade infantil na região.

Em 2003, quando iniciou o trabalho pelas comunidades ribeirinhas do município de Almeirim, se assustou com a quantidade de jovens grávidas e crianças subnutridas. “Era o retrato da total ignorância e do completo descaso social. Nesses lugares, 90% das crianças morrem por que as mães não são orientadas a cuidar dos filhos da maneira correta. Não se fala da importância da amamentação, do pré-natal ou qualquer coisa do tipo”, revela a irmã Manoelina.

Ela lembra que para combater este mal foi preciso contar com o apoio direto de algumas pessoas. Para isso, foi criada a figura do coordenador, gente de dentro das comunidades e que por estarem inseridas no mesmo contexto social que os outros conseguem orientar e acompanhar melhor o andamento das coisas.

Um bom exemplo disso é a técnica de enfermagem Eliana Moura Batista. Moradora da comunidade de Novo Horizonte há quatro anos, já consegue perceber no dia a dia o resultado das palestras que ministra uma vez por mês na escola comunitária. “Vim morar aqui para trabalhar no posto de saúde. Como o posto nunca saiu do papel e atendimento médico só há 3h de viagem, virei a enfermeira oficial do lugar. Quando cheguei, cansei de fazer parto de menina de 12 e 13 anos. Hoje, graças a Deus e às palestras isso não acontece mais. Conseguimos pílulas anticoncepcionais da Prefeitura de Almeirim e agora temos uma média de sete mulheres grávidas por ano. Metade do que encontrei há quatro anos”, diz.

Além dos alertas sobre a gravidez precoce, a Pastoral da Criança tem um novo desafio pela frente. “Estamos introduzindo a multi-mistura na alimentação das gestantes e das crianças. Assim, vamos erradicar qualquer sinal desnutrição ou anemia e quem sabe em breve acabar de uma vez com mortalidade infantil na nossa região”, diz a esperançosa Irmã Manoelina.
texto e fotos: Pedro Campos

3 comentários:

Dorotéia Sant'Anna disse...

MUito boa reportagem!!!! Inchada de orgulho,Peu! bj
Rosana

Fábio Bito Caraciolo disse...

Pedro Pedroca tá arrasando em terras (ou águas) amazônicas! Meu amigo, seu caminho é iluminado!!!
To adorando as aventuras do Veleiro... e o que é essa foto do homem sentado no chão??? Quando eu crescer quero ser igual a vc!!!
um abrço!!!
Bito

g.teixeira disse...

Peu
A cada leitura e vista d'olhos nas imagens vc nos faz descobrir sempre uma coisa nova. e como olog não tem sido atualizado regurlamente acredito ser por causa das dificuldade de acessar a net,isso acaba por permitir àqueles que já passearam pelas pelas reportagens voltar e descobrir muitas informações que tb nos levam a refletir sobre muitos aspectos desse no´sso país tão machucado, tão relegado pelos politicos mas, sempre tão belo. teria muito que falar, no entanto o espaço virtual exige rapidez. assim agradeço a oportunidade de tá viajando com vc e todo o grupo dos barcos pois acompanho cada um pelo mapinha da rota é muito irado!!!!!!!