sexta-feira, 14 de março de 2008

Açaí na veia


No cacho, no colar ou no sorvete. Na tigela, com peixe, charque ou camarão. No Pará, o açaí é quase uma unanimidade. Por aqui, há quem jure que nunca passou um dia sem desfrutar desta peculiar iguaria. Também pudera, uma pesquisa realizada pelo Governo do Estado constatou que os paraenses consomem mais litros de açaí que de leite.

Uma paixão estampada a cada esquina. Nas ruas de Belém, basta olhar para os lados para se deparar com as habituais barraquinhas de açaí. Qualquer tipo de requinte ou indícios de higiene ficam por conta da sua imaginação. A especialidade da casa não faz rodeios. É açaí com farinha e pronto.

“Sou doido por esse negócio. Passo mal se faltar açaí no meu sangue. É açaí na veia, moço”, conta o bibliotecário Herinton Wenceslau.

A verdade é que esta fruta nativa e exclusiva da região amazônica há séculos já fazia parte da dieta dos primeiros moradores daqui. No Museu do Encontro, pode-se observar diversas ferramentas utilizadas pelos índios para colher e moer ao danado.

Passado os anos, o açaí caiu no gosto popular e, aos poucos, vem rompendo barreiras culturais e geográficas. Com o passar dos anos, o que era comida de índio, agora, representa o Brasil em paises da Europa e Ásia.

“Provei açaí pela primeira vez em Tóquio. Vê se pode? Mas confesso que o daqui tem um sabor bem diferente. É mais forte”, revela a estudante belga Anna Muller.

Legítimo açaí

Tomei coragem e fui provar o famoso açaí paraense. Ao contrário do que é vendido em outras regiões do país, essa iguaria do norte é servida com farinha, açúcar e, geralmente, acompanhada de uma boa posta de peixe frito.

Sabendo disso, ao meio dia, levantei âncora e zarpei em direção à Feira do Ver-o-Peso, a Meca da culinária regional. Tem de tudo. De maniçoba e a pato no tucupi [suco extraído da mandioca].

Chegando lá foi só escolher a barraca e fazer o pedido. O açaí [na verdade, o suco dele] fica exposto aos olhos dos clientes e, segundo Lídia Campos – que vende açaí na feira há 35 anos, “é para comprovar a qualidade do produto”.

Metodologia que funciona e se reflete no bolso da maioria dos feirantes. Dona Lídia conta que foi com o dinheiro da venda do açaí que educou sozinha os três filhos. “ Graças ao açaí que tenho casa e comida”, afirma.

Eis então que o santíssimo chegou. Tudo como manda o figurino: R$ 5 na mão, servido no balcão, com farinha, peixe e açúcar. Olhei para o lado e resolvi copiar. Taquei açúcar...despejei ½ quilo de farinha d’água... catei o peixe.... e pow! Guela abaixo.
Texto e fotos: Pedro Campos

Nenhum comentário: